Amizade

segunda-feira, 11 de maio de 2009

A minha entrada ao mundo do Parkour ocorreu devido ao meu impulso por sempre querer aprender mais movimentos “acrobáticos” e que desafiam o senso comum. No meu primeiro “treino”, um desconhecido apelidado de “Rachacuca” e um tal de Arthur Barros me passavam a, ainda pequena, experiência que tinham com a disciplina.

Meus domingos à tarde começaram a ser dedicados a essa nova e recente disciplina. Nossos treinos de início eram mais baseados em troca de experiências dos escassos praticantes, com suas outras modalidades, tais como basquete, lutas, ginástica olímpica, musculação etc. Tentávamos assimilar as técnicas dos poucos materiais disponíveis com nossas capacidades já adquiridas, treinamento ao tradicional método ‘tentativa e erro’. Ao passar do tempo, cresceu, em escala exponencial, o número de praticantes e também de informações disponíveis na Internet dos praticantes mais experientes. Com isso começamos a dar os primeiros passos no entendimento do Parkour e percebemos que a disciplina envolve mais do que apenas se movimentar.

Imanente ao desenvolvimento do corpo, desenvolvemos junto a nossa mente. Levei algum tempo para assimilar a grande importância de treinar e controlar a mente a meu favor, e hoje ainda me encontro nesse eterno desafio. Para executarmos um movimento fisicamente, você precisa, primeiro, executá-lo mentalmente. Ao analisar um obstáculo, passamos o movimento na cabeça várias vezes, tentando nos aproximar ao máximo da realidade. Em seguida nos concentramos e o realizamos. Podemos ter a mente como uma amiga ou inimiga, depende apenas da forma como você a trabalha. Concentração, autoconfiança, bom diálogo interior, fazem com que você fortaleça a mente junto ao desenvolvimento do corpo, permitindo dar um passo no seu desenvolvimento. É um trabalho sem limites que aprendi ao longo do treinamento. O corpo é apenas um instrumento da nossa mente!

Zelar pela saúde física e mental, assim como zelar pelos espaços de treino são outras questões que aprendi, também, em contato com a disciplina, assim como respeitar os limites dos companheiros e o seu próprio limite. Percebi então que aquela brincadeira de domingo nos permite desenvolver força, coordenação, equilíbrio, flexibilidade, agilidade, cognição, reação, controle mental e, acima disso, permite também o desenvolver nosso caráter.

Apesar de todo esse desenvolvimento e aprendizado que o Parkour nos oferece, não teria conseguido chegar muito longe sem a ajuda dos meus grandes amigos e companheiros de treino. Parkour é uma atividade individual, você pode treinar sozinho, como faço às vezes em que preciso me concentrar melhor. Mas aqui também o espírito de equipe é importantíssimo. Quantas vezes pensei em desistir de algum desafio, mas escuto o Arthur dizendo: “Fái, féééi, você consegue!”, me incentivando sempre. Quando converso sobre as idéias do Parkour e treinamento com o Daniels e Conrad. Quando empolgo em fazer movimentos mais acrobáticos e o Cabral, Pedrão e o Matheuzinho estão sempre lá me ajudando a melhorar, polir cada vez mais as técnicas e me incentivando. Quando tenho longas conversas com o Bruno, me ajudando em momentos de dúvidas como um irmão mais velho. Quando encontramos com a Rafa para treinar e planejarmos as próximas etapas do PKMAX. Sem ela e o Bruno, possivelmente estaria até hoje apenas fazendo videozinhos e postando no Youtube, se já não tivesse deixado a disciplina.

Desenvolvi, sim, por muita persistência minha também. Mas sem a ajuda deles estaria longe do meu atual desenvolvimento, que ainda é jurássico. Cada um tem um objetivo diferente mesmo dentro de uma mesma equipe, porém um ajuda o outro a se aproximar do que quer mais para frente. E como também aprendi com eles, “Equipe” significa que todos têm uma função e todos os membros têm o mesmo grau de importância. Não há um líder fixo, mas sim um líder mais adequado para cada tipo de tarefa ou trabalho.

Esse é apenas um resumo de todo meu aprendizado. Obrigado a todos os meus amigos pelas constantes ajudas e incentivos que me deram e que, tenho certeza que continuarão sempre ao meu lado. Tentamos sempre alcançar um nível mais elevado, sempre colocando novos objetivos, mas o que importa não é bem o objetivo final, e sim a jornada, que seria muito mais difícil e sem graça sem essa grande amizade.


=)

- João Flávio

Pra que eu não esqueça

terça-feira, 5 de maio de 2009

Depois de mais de dois anos desde o primeiro dia em que disse pra mim, estou treinando, pela primeira vez me vi sozinha numa praça. Apenas eu, minha respiração, minha vontade e os obstáculos. Num primeiro momento não soube o que fazer. Comecei apenas começando. Pelo mais fácil. Alonguei braços, pescoço, pernas, articulações e minha mente a mil, sem me dar tréguas, apenas me perguntando: O que diabos você pensa que vai fazer aqui sozinha? Passei a fazer coisas com as quais já estava habituada: flexões, agachamentos, abdominais. E minha mente ainda me desafiando: O que diabos você pensa que vai fazer aqui sozinha? A temperatura do meu corpo esquentou, meu sangue começou a circular com mais rapidez e uma onda de coragem me invadiu. Não que eu estivesse disposta a realizar movimentos incríveis. Não. Eu estava apenas disposta a começar. Disposta a me mover. Coisa que por tempos eu sequer tive coragem. Fiz alguns precisions, outros movimentos que preciso confessar que não sei o nome, alguns equilíbrios, subi muros. Experimentei sequências mais elaboradas com três movimentos seguidos. Alternei com outros movimentos de força e me senti viva. Como nunca havia me ocorrido, algumas fichas caíram. Por mais que eu tivesse lido textos de traceurs mais experientes, por mais que eu já tivesse escutado deles as melhores formas de fazer, pela primeira vez realmente entendi, com meu corpo e não com a minha mente, os porque de várias coisas que eu sempre ouvia. Meu corpo, e não minha mente, me permitiu sentir coisas importantes, que descrevo agora para que eu mesma nunca as esqueça:

Que a mente da gente prega peças e que muitas vezes ela resolve falar conosco milésimos de segundos antes da execução de um movimento. Você não vai dar conta! Esse não é pra você. Quem você pensa que é pra fazer isso? O que foi mesmo que eu comi no almoço? A mente pode ser nossa aliada, mas pode também facilmente se transformar em nosso maior vilão. Perder o foco é fácil. Mantê-lo é mérito. Cale sua mente! Calada ela funcina melhor em seu favor.Rafaela na Fabrai.

Que é importante não deixar a energia se esvair. Mexa-se, não pare, evite sentar-se. Para um treinamento mais produtivo combine consigo mesmo um pequeno desafio para o dia. Apenas entre você e você mesmo. Farei 10 repetições de um movimento. Farei outras 10 repetições de outro. E vá vencendo os pequenos desafios aos poucos e vá se gratificando por executá-los. Tome um gole de água. Alongue-se. Mas não pare. Energia parada é energia desperdiçada. Alterne movimentos de certa dificuldade, com movimentos de força. E ao final, sem reparar já realizou 50 flexões, 100 abdominais, se mantendo em movimento por quase uma hora.

Que os locais mudam muito pouco, o que deve mudar é nossa forma de enxergá-los. Exercite um novo olhar sobre as coisas. Procure novos ângulos. Pense diferente. Como atingir aquele local de uma nova forma, como executar aquela velha forma em um novo local? O que há que ainda não tentei? Tente e surpreenda a si mesmo. Tenho um amigo que funciona como um exemplo vivo. Ele não pára, ele não sossega, ele está sempre em busca, à procura. E a própria procura o instiga sempre a ser criativo. Ele erra bastante. Algumas boas vezes acerta. Mas está sempre tentando.

Que fazer movimentos novos pelo menos três vezes corretamente é essencial Você precisa mostrar ao seu corpo que sim, que ele fez, que ele completou. Nosso corpo tem memória. Memória viva, em movimento. Por isso não esquecemos coisas que são bem aprendidas e bem repetidas, como nadar, andar de bicicleta. Faça a memória do seu corpo funcionar. Force-se a repetir. Quando existe um despêncio grande de adrenalina na nossa corrente sanguínea, o corpo tende a querer parar. Viveu aquela experiência. Ultrapassou o limite. Pronto. Acabou. Mas não… Force-se a repetir. Faça seu corpo ter certeza e repita. Espere o tempo necessário. Nem muito, nem pouco. E repita.

Que mesmo quando treinar na companhia de outras pessoas, é importante exercitar a solidão. Vá para cantos, respire fundo, se encontre, perceba-se. Isso te fará aprender a não dar importância para o que dizem. E nem importância para o que você pensa que os outros estão pensando. O motivo de estar ali é apenas seu e só você sabe qual é. De tempos em tempos reviva a possibilidade de estar só em treinamento, mesmo que outras pessoas estejam ao seu lado treinando. Re-experimente a sensação de contar apenas consigo mesmo.

Espero realmente que eu não esqueça.

- Rafaela.

Desafio PL

Passei bastante tempo pensando no segundo desafio, não sabia ao certo qual seria e quando poderia desafiar. Após algumas observações sobre as vontades das pessoas comecei a elaborar o Desafio N° 2.

Mãos do Conrado.

Quando desafiei no dia 30 de março, uma quarta-feira, nem mesmo eu sabia ao certo qual seria o desafio, apenas convidei todos a me encontrarem às 10:30 da manhã no muro da Biblioteca Publica (vulgo muro da PL). Passei os dias pensando em um bom desafio, este desafio não seria facilmente conquistado e muito menos impossível.

Na última noite antes do desafio decidi finalmente o que faríamos, fiz questão de manter segredo mesmo já dando uma chance a imaginação, avisando que seria no muro da PL. Todos foram bastante pontuais na chegada, esperei 20 minutos e revelei a tarefa.

Primeiramente faríamos a ida e a volta do muro andando na posição de SDB ou Cat Leap. O muro deve ter quase 100m, eu que não vou medir... Para cada vez que alguém subisse no muro para descansar o castigo seria pagar 15 climb ups parado e 15 climb ups correndo, acumulados no final. Para quem caísse o castigo seria dobrado, e ainda contaríamos os landings dos desmontes nos climb ups correndo.

A primeira coisa que ouvi quando terminei de explicar foi que o castigo era muito alto, que tinha que diminuir, que não ia dar, se não poderia ser só andar o muro ida e volta. Após a choradeira, lógico, não mudei nada!

Todos escreveram seus nomes no papel quadriculado: Eu, Art, Matheus, Thiago Ramalho, Tiago e Thiago. Art começou a atravessar o muro às 11:15 da manhã, a Rafa ficou coma gente anotando as quedas e descansos, batendo fotos e com as garrafas de água. Ainda bem que ela foi e nos ajudou.

Daí para frente aproveitamos a diversão abrindo alguns calos nas mãos e passando alguns perrengues pra subir para descansar em algumas partes em que havia uma construção que dificultava nossa subida. Eu fui o primeiro a terminar 12:57, logo depois veio o Matheus 12:58, Art 13:06 e Thiago Ramalho 13:45. O Tiago teve muitas quedas e descansos mas tentou arduamente, o outro Thiago desistiu logo no inicio alegando não estar preparado.

O fim da travessia do muro ficou assim:

Conrado: 20 descansos em 1h e 42min
Matheus: 15 descansos em 1h e 43min
Art: 22 descansos em 1h e 51min
Thiago Ramalho: 29 descansos e 2 quedas em 2h e 30 min

O saldo do castigo foi o seguinte:

Conrado: 300 climbs parado e 300 climbs correndo e 300 desmontes = 600 climbs + 300 landings = 900

Matheus: 225 climbs parado e 225 correndo e 225 desmontes = 450 climbs + 225 landings = 675

Art: 330 climbs parado e 330 correndo e 330 desmontes = 660 climbs + 330 landings = 990

Thiago Ramalho: 420 climbs parado e 420 climbs correndo e 420 desmontes= 840 + 420 = 1260

Calculamos, pensamos e me lembrei que teria q sair até 18:30 da tarde para trabalhar, me ferrei. Fomos para o muro enquanto o Thiago Ramalho terminava de atravessar para enxugar o tempo o máximo possível, fiz 90 climbs o Matheus fez 60 e o Art teve que sair. Às 14:15 fomos almoçar leve e rápido. Antes disso alguns queriam desistir, me desculpem se às vezes sou grosso pra dizer que acredito e me empenho nos desafios não só para mim mas também para vocês que vêm participar. Eu disse: “Se você pôs seu nome no papel pensando que poderia desistir facilmente, nem deveria ter colocado!”

Arthur executando o SDB-walk no Muro da Biblioteca da PL.

Sou rude, mas acredito e faço questão de enxergar potencial e motivar meus companheiros e amigos nos desafios, custe o que custar.

Voltamos do almoço e começamos a climbar freneticamente parados como já havíamos começado. Matheus acabou os dele às 15:50, eu acabei os meus ás 16:03, Art acabou os dele às 16:28 (THIS IS SPARTA!). Ao completar 280 o Thiago Ramalho parou com os climbs parados e seguimos para os correndo.

Fomos para uma parte do muro que não é a mais alta, mas é alta o bastante para tentar, como foi o combinado no inicio. Chegando próximo às 17h começamos a nos sentir cansados de verdade, meu tempo já estava curto demais. Ao fazer 40 climbs desisti de continuar, Art também parou após 5, Matheus parou em 55 e o Thiago Ramalho parou em 28. (THIS IS NOT SPARTA!)

Não conseguimos no final das contas, chegamos perto do limite físico, faltou tempo e até organização por ser um desafio surpresa. Nesse caso poderíamos ter adotado estratégias para completar ou até ter nos preparado exclusivamente para ele. De qualquer forma todos saíram de lá vitoriosos pois fizeram algo que nunca tinham feito e todos nós vamos pensar umas 10 vezes antes de subir pra descansar ou cair do muro quando repetirmos esse desafio.

Obrigado à todos que foram e continuaram até o fim, obrigado a policia que não deu a dura na gente dessa vez e foi até muito legal, obrigado a Rafa por nos ajudar com tudo no inicio e obrigado a chuva que caiu às 17:30 e que me mostrou, de algum jeito, que realmente era hora de parar neste dia.

Confira as fotos clicando aqui.

- Conrado.